Netuno

É irônico que logo Netuno seja um planeta oceânico. Há quem pense que isso foi uma feliz coincidência do destino, mas nada seria menos verdadeiro… Na realidade, foi um ato planejado pelo arquiteto espacial curdo Ajar Karasholi, a serviço da Frente Oeste do Consórcio Colonizador Pan-Asiático (CCP-AS).

Karasholi foi responsável pelo paisagismo de Netuno. Rapidamente lhe ocorreu que, dada as características geomorfológicas únicas do planeta e seu distanciamento do Sol, ele seria ideal para um ousado plano urbanístico: o projeto consistia na terraformação de Netuno para que se tornasse um planeta unicamente aquático, onde os centros urbanos se localizariam em regiões submersas.

Embora tenha enfrentado forte oposição de correntes contrárias, o projeto foi aprovado pela comissão avaliadora do Consórcio, interessada na exploração da dinâmica social submarina e no acúmulo de vastos estoques de água em um único astro — recurso que tornava-se escasso no restante do Sistema, devido à superpolução. Toda a água da superfície de Netuno seria potável.

A terraformação de Netuno seguiu o plano original de Karasholi, empregando uma variação da bomba CHER, dispositivo de transformação geoclimática que havia sido utilizado com relativo sucesso em Vênus e Urano. De todos os processos de terraformação do Sistema Solar, o de Netuno foi o único a alcançar nota cinco na escala de avaliação empregada pelos consórcios terrestres. Apesar de não ser a nota máxima, foi a maior que um empreendimento humano conseguiu no Sistema.

Hoje, Netuno é lar de milhares de povoamentos submarinos e de uma efeverscente economia. A cidade de Perdên, segunda em importância no planeta e única situada acima do nível do mar, leva o nome da mãe de Karasholi, em sua homenagem. É dela o célebre discurso que marcou o fim do ciclo inicial de colonização por aquelas bandas:

“Nosso povo verteu lágrimas por séculos e essas lágrimas salgaram o chão terroso da nossa Terra… mas você, meu filho, transformou todas as lágrimas em um planeta inteiro. Delas, emergiu o nosso lar.”

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